26 de out. de 2009

O Avesso e a Vanguarda

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Artigo publicado no Instituto Humanitas Unisinos, de autoria do sociólogo Francisco de Oliveira, contém uma imprecisão imperdoável.
O pernambucano Chico Oliveira fez parte ativa do Partido dos Trabalhadores até 2003. Entretanto, ao deixar o partido, tornou-se crítico feroz ao esquerdismo de Lula. Afirma que o Presidente, hoje, está à direita de FHC devido ao consenso em torno de seu nome. O teórico analisa, no artigo O avesso do avesso, a trajetória política do Brasil desde a Proclamação da República, passando pelos personagens mais importantes da História , até chegar aos dias de hoje.
Era de se esperar que suas observações à respeito das políticas econômicas e sociais deste governo, oriundo das bases sindicais, fossem focadas na continuidade do processo capitalista.
De fato, o governo Lula não implementou a Revolução Socialista idealizada pelo PT, e outros partidos de esquerda, na década de 80. É verdade, como diz em seu artigo, que a classe A/B foi a que, proporcionalmente, mais creceu no Brasil na era Lula.
Mas, infelizmente, o sociólogo esqueceu um fato importante da história recente, que, com certeza, fez modificar a estrutura política mundial: a queda do Muro de Berlim. Seu artigo menciona a Carta del Lavoro de Getúlio Vargas, a queda de Mikhail Gorbachev e sua consequência, mas ignora o simbolismo do fim do regime comunista no mundo.


A VANGUARDA a qual Chico Oliveira de refere, se desfez, em pó, quando o muro caiu. Comunistas do mundo inteiro se viram destituidos de uma ideologia que acreditavam positiva e, sobretudo, possível.
Não quero mencionar a positividade ou a possibilidade de existirem países comunistas. Não tenho capacidade para tanto. Mas vejo um homem alcançar o poder político máximo de uma sociedade e, à partir do dia de sua posse, estar diante de tomada de decisões que podem mudar o futuro de seu país.
Acho que posso, na teoria, concordar com quase tudo o que diz o Professor Chico de Oliveira. Na teoria. Tenho absoluta certeza que Lula também deve concordar. É uma questão de lógica e coerência teórica.
Mas a prática se mostra exatamente ao avesso! E é aí que o artigo torna-se impreciso.
Antes de sua primeira eleição a Presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva publicou a Carta aos Brasileiros. Lá, afirmava literalmente que respeitaria os contratos em vigor. Assumiu, perante a sociedade brasileira, a opção por dar continuidade ao capitalismo vigente, apesar de todas as indecências nele (capitalismo) contidas. Essa manifestação o elegeu; acalmou a burguesia que tanto o temia e pôde vencer a direita.
Então, usando os instrumentos disponíveis, colocou em prática aquilo que era mais necessário, mais terrivelmente urgente, para grande parte do povo brasileiro: acabar com a fome! Criou o Fome Zero e este foi o passo inicial para desenvoler as políticas sociais que hoje o colocam com uma popularidade invejável.
Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso sabe o quanto foi importante - e ainda é! - a distribuição de alimentos e renda pelos cantos mais pobres do Brasil. É óbvio, e o Professor Chico sabe perfeitamente, que é impossível pagar a imensa dívida social que foi construída desde o descobrimento. O Professor sabe que Lula, ou qualquer outro, não tem tempo suficiente para acabar com a miséria brasileira. Isto é um trabalho de muitas gerações.
O importante é que o pontapé inicial foi dado.
Sem rupturas, sem provocações. Chico de Oliveira não tem o direito de cobrar de Lula uma revolução socialista no Brasil. É cruel de sua parte querer que Lula coloque em prática seus ideais de sindicalista. O muro caiu e, com ele, as possibilidades de mudanças radicais na história do homem.
Cabe a intelectuais como Francisco de Oliveira buscar outras formas de eliminar as desigualdades sociais do mundo moderno. No Brasil, os instrumentos disponíveis são esses. Lula os está usando em benefício da grande parcela desprezada da população. Está no caminho certo.
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