24 de ago. de 2010

ENTREVISTA: César Maia.


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Uma das lideranças mais expressivas da oposição, o ex-Prefeito do Rio de Janeiro e candidato ao Senado Federal pelo DEM-RJ, César Epitácio Maia, concedeu entrevista a este blog por e-mail na semana passada.

Nascido em 18/06/1946, César Maia, como é conhecido, já foi membro do Partido Comunista Brasileiro, o Partidão. Optou pela direita depois da ditadura militar que o exilou, alegando que toda a esquerda assim o fez. É pai de Rodrigo Maia, presidente nacional do DEM e foi ele quem trouxe o nome de Indio da Costa para a chapa tucana, apesar de não assumir.

É um dos maiores criticos da postura tucana nesta eleição. Antes da escolha de José Serra como candidato de sua coligação, não escondia sua preferência por outro tucano, Aécio Neves; chegou a afirmar que o mineiro teria maiores chances de vitória que o paulista Serra.

Nesta entrevista, César Maia mostra um certo ar derrotista. Afirma, por exemplo, que sua coligação deveria ter antecipado o processo de exposição na TV e reclama que a postura eleitoral adotada pelos tucanos não é bastante clara. Já fez criticas ao marketeiro de Serra e, depois desta entrevista, a midia noticiou o rompimento de relações entre Rodrigo Maia e José Serra.

Abaixo, a integra da entrevista.

SANDÁLIAS DO PIRATA - Como estudioso e analista de pesquisas de intenção de voto; diante do quadro atual para a eleição presidencial, como o senhor avalia as chances do candidato que seu partido apóia, José Serra? Ainda acredita, como disse há poucos meses atrás, que Serra tem chances de vencer no primeiro turno?

CÉSAR MAIA - O método da campanha do Serra está fortemente linkado ao horario de TV. A probabilidade de vencer no primeiro turno dependeria de se antecipar esse processo.

SdoP - O senhor pensa que o Presidente Lula já transferiu todos os votos possiveis para a candidata do PT, Dilma Rousseff, ou ainda, com o inicio da campanha no rádio e TV, ele conseguirá influir ainda mais na sua sucessão?
CM - Na TV se verá com a presença intensa dele.

SdoP - O senhor acredita que a postura de ataques à candidata Dilma, por parte de José Serra, será intensificada daqui por diante, por ser, segundo seu ponto de vista, mais produtivo que apenas abordar programa de governo, como afirmou em seu ex-blog?
CM - Não me lembro de ter dito isso. O que disse é que a linha de oposição deve ficar bem clara.

SdoP - Era notória a preferência do DEM pela candidatura Aécio Neves antes da convenção do PSDB. Seu partido não teve influência suficiente para barrar o projeto do PSDB Paulista ou Serra era seu plano B?
CM - O PSDB escolhe seu candidato e assim o fez.

SdoP - Qual a expectativa de seu partido, o DEM, ao indicar o deputado Indio da Costa para o lugar de vice na chapa de José Serra, visto que é um nome pouco conhecido e com nenhuma experiência em campanhas deste porte?
CM - Foi o proprio Serra que escolheu pelas virtudes do Indio.

SdoP - Há boatos que o candidato José Serra não conversa com o presidente do DEM, Rodrigo Maia, seu filho. É verdade? O senhor tem conhecimento da estratégia do PSDB para a campanha da oposição? Rodrigo Maia tem? Vocês participam das decisões?
CM - Isso nunca ocorreu. As divergencias foram na escolha do candidato.

SdoP - Em seu ex-blog o senhor faz uma análise da postura do PT em relação ao trabalho que o Presidente Lula vem fazendo no sentido de aumentar a base de apoio no Senado Federal. Sua crítica remete ao fato de que uma maioria governista no Senado tornará os senadores "submissos" e acusa Lula de preparar um "kit Chavez" para mudar a Constituição. O senhor acha possivel governar um país sem base parlamentar sólida? Ou acredita que a maioria legislativa deve estar sempre na mão das oposições?
CM - O ponto não é esse: é mudar a constituição no sentido de um regime chavista. Hoje Lula tem ampla base mas não para isso. 

SdoP - Em sua campanha ao Senado pelo Rio de Janeiro, o senhor apóia explicitamente Fernando Gabeira do PV para governador. Por qual razão o senhor não apóia a candidata Marina Silva, do mesmo PV, para a Presidência da República? O senhor acha que o eleitor compreende esta distinção?
CM - Decisão dos partidos nacionais.

SdoP - Em sua trajetória politica, o senhor já foi do PCB e do PDT; foi perseguido, exilado e preso pelo regime militar; foi Secretário de Fazenda de Leonel Brizola. O quê o motivou a fazer parte do partido politico que sustentou a ditadura, oriundo da velha ARENA, depois PDS, depois PFL e agora DEM?
CM - Toda a esquerda caminhou para o centro no mundo todo. O governo Lula com uma politica economica monetarista é exemplo disso.

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Comentários deste blog:
  • É visivel o pouco envolvimento do DEM nacional na campanha de Serra. Desde o inicio das negociações para escolha do nome que enfrentaria Dilma Rousseff, a maioria do DEM colocou-se contrária à escolha do tucano paulista. Tentaram, sem sucesso, lançar Aécio Neves como vice. Outro fracasso. Acabaram cedendo a Serra diante da impossibilidade de lançar um nome do próprio DEM.
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  • Nota-se o imenso temor da direita conservadora brasileira diante da possibilidade de Dilma Rousseff conseguir maioria folgada no Senado Federal, como postado ontem aqui no SANDÁLIAS DO PIRATA. A imprensa corporativa está, diariamente, trazendo este assunto à pauta, o que demonstra certa resignação com a vitória do Partido dos Trabalhadores e tentam, pelo menos, manter o que lhes resta de poder.
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  • O temor do aumento de popularidade de Dilma Rousseff com o inicio do horário eleitoral pela TV está se materializando. Isto já foi tema de diversos artigos de César Maia em jornais e agora, com os números das pesquisas confirmando esta tendência, o DEM fica cada vez mais isolado no cenário das oposições por não fazer parte da montagem da estratégia de marketing eleitoral dos tucanos.
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  • Existe o sério risco da falência total do DEM. Suas bancadas na Câmara e Senado deverão diminuir consideravelmente e, se nas próximas eleições municipais, daqui a dois anos, não tiverem capacidade de fazer aumentar sua rede de prefeitos e vereadores do interior, estará extinta a agremiação politica derivada da ARENA, a base legislativa dos generias que ocuparam a Presidência da República depois do golpe de Estado de 1964.
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  • Este blog não concorda que politica econômica monetarista seja guinada à direita. A proposta do Presidente Lula, ao publicar a Carta aos Brasileiros em 2002, era manter os contratos, o que significa não romper com o modelo vigente. A demonstração cabal que a politica econômica de Lula manteve-se na esquerda é a crescente distribuição de renda entre os mais pobres, o que deverá ser continuado num eventual próximo governo petista, apesar do monetarismo relativo. O que se viu foi um movimento para o centro do espectro politico com a aliança com o PMDB. Esta foi a via encontrada para manter a governabilidade e implementar as politicas sociais tão necessárias no Brasil.
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Um comentário:

Humberto Carvalho Jr. disse...

Olá, Júlio!

Parabéns por ter estômago forte. Caso contrário, não seria possível sequer terminar de editar esta entrevista.

O bacana da entrevista é poder notar como esses ditos ex-Esquerda são ainda piores dos que sempre foram de Direita. E não há nada de obsoleto nesta classificação, segundo acusariam os adeptos do discurso pseudo-pluralista.

O entrevistado até tentou relacionar o regime militar aos partidos de esquerda. Felizmente, você lembrou que o DEM, ex-PFL, ex-PDS, Ex-Arena, é que participou do que alguns colegas de partido de Cesar Maia insistem em chamar de "Revolução de 1964" quando se referem ao golpe.

Se o Brasil seguisse o exemplo de alguns países vizinhos, que resolveram punir os resposáveis pelas atrocidades cometidas durante as suas ditaduras militares, a população jamais elegeria algum deles. Também não teríamos a mídia que temos, tão isenta do dever de informar.

Abraços!