30 de abr. de 2011

AS NOVAS CLASSES C, B e A.


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Depois de postar o texto de Verissimo, aí abaixo, com a piada da destruição da pirâmide social brasileira, tradicional monumento do conservadorismo tupiniquim, faço uma reflexão sobre as possiveis consequências que a criação de uma classe média mais forte trará no campo da politica, através da economia.



Começo pela classe A. Apoiada no crescimento robusto do Brasil nos últimos anos e diante da possibilidade de continuar crescendo forte. É cedo, ainda, para defini-la como nova classe, pois a ela ascenderam jovens empreendedores que não herdaram empresas familiares, mas criaram e desenvolveram meios de acumular capital pelo próprio esforço. Juntaram-se às familias tradicionais que já eram integrantes do topo da pirâmide. Há que esperar para ver resultados.



Não me refiro aos novos ricos ou àqueles que, por um lance de felicidade ou por alguma habilidade qualquer, tornaram-se milionários da noite para o dia. Uma grande quantidade de pequenos empreendedores, de familias de classe B ou C, com estudo universitário e muita disposição – aliada à capacidade – ganharam dinheiro através do trabalho. São importadores, agentes do mercado financeiro, empresários do ramo de diversões e turismo; consultores, comerciantes, construtores, enfim, uma série de indivíduos que enxergaram as portas se abrindo e, com competência, as atravessaram. Viram o risco diminuir com o crescimento do Brasil, e fizeram as apostas certas.



A classe B, a intermediária que se equilibra na onda positiva da economia e que viu alguns de seus sonhos realizados, igualmente inflou. Cidadãos que optaram por carreiras acadêmicas tradicionais – direito, engenharia, medicina, etc – muito provavelmente pelo esforço de seus familiares; funcionários públicos, profissionais autônomos e liberais, pequenos empresários, etc. Estudaram em escolas privadas de nivel médio e não passaram pelas mesmas dificuldades que seus pais para ingressar no mercado de trabalho. Um contingente imenso de pessoas que retirou do crescimento econômico sua sobrevivência, seu carro zero quilômetro de luxo, sua primeira viagem ao exterior.



Finalmente, a tão alardeada classe C, a massa de filhos de operários sem qualificação que ingressou no mercado consumidor. Não deve ser preciso defini-la , pois é o tema que mais se discute no Brasil pós-Lula; um dos resultados concretos mais positivos do projeto do Partido dos Trabalhadores: distruibuição de renda e emprego.



É evidente que o movimento inter-social, para cima, torna-se mais vigoroso quando as oportunidades são expostas. O crescimento econômico dos últimos anos foi capaz de levar renda a lugares antes esquecidos; nota-se claramente que as regiões Norte e Nordeste acabam sendo as mais favorecidas, visto que sempre foram relegadas ao esquecimento proposital dos governos anteriores; é onde havia maior necessidade de retirar da pobreza milhões de pessoas. Claro, ainda há muito a fazer para trazer à civilidade parcela da população. O ritmo deverá ser cada vez mais acelerado, pois a cada dia surgem novos empreendimentos e empresas que buscam mão de obra. É o que se chama, em economia, de círculo virtuoso.





Do ponto de vista meramente econômico, é preciso que o Brasil – e nossos parceiros comerciais – siga crescendo acima da média do resto do mundo capitalista. É o que se avizinha que dirá o quanto é forte nossa economia; ao mirar o mercado interno para crescer, o Brasil acertou, da mesma forma que, ao reduzir a dependência do capital externo (assim como fez a China, a India e a África do Sul. A Russia ainda é uma incógnita, mas demonstra vontade). Hoje, o Ministro da Economia impõe restrições à entrada de moeda estrangeira, sobretaxando aquilo que implorávamos, ajoelhados, num passado recente.



As altas reservas em moeda estrangeira nos coloca numa posição mais que confortável. Nossa politica desenvolvimentista nos dá credibilidade, junto à estabilidade politica, para dizer claramente quem queremos como parceiro. Em pouco mais de cem dias de governo, a Presidenta Dilma Rousseff visitou a Argentina e a China num claro sinal do que acabo de dizer.



Mas, se sob a ótica econômica estamos no rumo certo, e do ponto de vista politico, o que é que se pode prever?



Volto à classe C.



Sem dúvida, está se tornando o fator mais importante politicamente. Estabilizada e consumindo, essa fatia da população já é a maioria e é nela que devem se concentrar os agentes politicos daqui em diante.



Em recente entrevista, o ex-Presidente FHC, o nefasto, lembrou que as oposições devem adaptar seus discursos para esta nova classe, que serão eles os responsáveis pela eleição deste ou aquele candidato. Ele tem razão.



A inclusão no mercado consumidor já ocorreu. Agora, a classe C está à beira de começar a exigir mais. Com a prerrogativa que lhes compete, por representar o Brasil do presente, começam a dizer o que esperam de seus governantes.



O fenômeno das comunicações, sobretudo a internet, será o grande formador de opinião. Já está sendo. Se não, como explicar que a Presidenta Dilma Rousseff alcançou os niveis de aprovação mais altos da história recente, se, há pouco mais de cinco meses 44 milhões de pessoas votaram no candidato da oposição? 


Parece nitido que, apesar de votarem pela descontinuidade, estes eleitores que preferiram José Serra aderem ao governo do PT de forma a dar crédito ao projeto do Partido dos Trabalhadores. Era, neste raciocínio, um voto sem qualquer viés politico, mas apenas reflexo de um momento; a influência ostensiva da midia durante a campanha de 2.010 deve ter servido para isso. Foi o máximo que a direita conseguiu.



Tenho a certeza que o brasileiro é conservador por natureza. Apesar de termos uma imagem de povo festeiro, sem pontualidade ou compromisso com as coisas sérias; que só pensa em carnaval e futebol, somos atrasados do ponto de vista da liberdade individual. Poucos conhecem seus direitos – muitos nem lembram em quem votaram – e não dão o devido valor a sua voz. A seu voto. No momento da escolha solitária na cabina de votação, o que conta é o conservadorismo. As escolhas nem sempre são pensadas; quase nunca o bem comum é o alvo de seu voto.



Imagino como será o comportamento da classe média brasileira nos próximos 8 ou 12 anos, nas urnas. É muito provável que o discurso da direita, hoje esfacelada e quase sem representantes ativos ou merecedores de crédito, passe a fazer sentido. Uma vez erradicada a miséria, a segunda geração da nova classe C certamente terá diante de si o dilema da manutenção do status quo. Legítimo, mas aquém de seus direitos.



O discurso da exclusão, bandeira da direita conservadora, passará a fazer sentido? Garantir as conquistas será mais importante que ampliá-las? Acumular individualmente será melhor que repartir? O coletivo, terá sentido?


E o comportamento da midia – escrita e falada -, maior geradora de factóides, mentiras e boatos, que sempre esteve do lado das poucas vozes do topo da pirâmide social, será ela capaz de adaptar seus editoriais à nova realidade brasileira para satisfazer seus novos clientes da estável classe C?


Ao que tudo indica, muito em breve a pirâmide social não terá mais cara de pirâmide. Isso é fundamental.E terá valido a pena.


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