24 de jun. de 2013

A CULPA É DE LULA. E MINHA TAMBÉM.




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Em 1.961, o recém-eleito Presidente da República Jânio Quadros renunciou a seu mandato após sete meses no cargo. Em sua carta-renúncia, alegou crer que “não manteria a própria paz pública”. Este gesto desencadeou o golpe militar de 64 e o mergulho num tempo obscuro da vida política nacional. Até hoje há quem diga que a estratégia de Jânio foi o chamamento para voltar aclamado nos braços do povo.

A QUEM INTERESSA ESTA OPINIÃO?
Em 2.003, ao tomar posse no Palácio do Planalto, Luis Inácio Lula da Silva iniciou uma revolução silenciosa no Brasil. Com carisma e forte apelo popular, foi capaz de inserir na agenda política brasileira a transformação social.
No comando de uma Nação capitalista, soube usar as ferramentas disponíveis para começar, de uma vez por todas, a inserir o brasileiro na cidadania: através do emprego e da geração de renda, com crédito barato, projetos sociais de amplo alcance, investimento em educação e saúde para o mais pobre dos cidadãos.
Até mesmo a oposição, partidária e midiática, não é capaz de citar qualquer outro mandatário que retirou tanta gente da pobreza e da miséria; nunca antes na história deste país tivemos tantas pessoas na classe média como hoje. Quem negar isto, não conhece o Brasil.
  
Sua origem operária lhe serviu de referência assim como seus confrontos com o empresariado, enquanto líder sindical, para montar um discurso moderado, mas progressista. Não deixou de atender aos maiores grupos econômicos, que o olhavam com desconfiança, cumprindo os contratos e pagando a dívida pública pontualmente ao mesmo tempo que engajava parte do patrimônio financeiro do Brasil em obras de combate à miséria e à fome.
A OPÇÃO DA CLASSE MÉDIA

Este novo foco rendeu-lhe a reeleição em 2.006, apesar do bombardeio originado na CPI dos Correios, um ano antes, contra todos os simpatizantes do Partido dos Trabalhadores. E a sequência dos atos de seu governo levou Dilma Rousseff a derrotar, pela terceira vez consecutiva, os candidatos preferidos da parte mais conservadora da sociedade.

Passados dez anos desde o start para um novo modelo de desenvolvimento do Brasil, faço um mea culpa. Este blog, por inúmeras ocasiões, postou em concordância com membros do PT que acreditavam mais nas pesquisas de sondagem de opinião que no poder de convencimento dos apeados do poder.
Lula errou e levou algumas dezenas de milhões de pessoas a não se dar conta de que a direita não aceitaria os novos rumos, a inclusão, sem reagir.

Sou obrigado a reconhecer que fomos avisados. Outros blogueiros alertavam desde há muito tempo que era preciso assumir postura mais direta com a opinião pública; a mídia fundamentalista nunca deixou de atacar, nunca repercutiu as virtudes deste governo, pelo contrário, empenharam-se todos os maiores veículos de comunicação, como uma organização criminosa, na tentativa de desqualificar Lula, Dilma e o PT como o mais corruptos dos governos da história.

Foram vários os episódios explorados pela velha imprensa. O mais simbólico de todos foi o “mensalão”. Este blog sempre acreditou que a contrainformação, através das novas mídias sociais, seria capaz de levar o outro lado ao leitor. Bobagem! Os “blogs sujos” se perderam  ao acreditar que a via democrática, a eleição através do voto, seria suficiente para manter em evidência o progresso econômico e social que vivemos, a despeito da grave crise que varre o mundo dito desenvolvido.

Não reagimos no momento oportuno. Lula não reagiu e Dilma, também. A postura do Planalto foi ineficiente em sua comunicação; manteve alocação de recursos públicos nas redes de TV que mais os ofendiam, permitiu ataques baixos e caluniosos sem oferecer resistência; deixou-se desqualificar sem provas, não respondeu às capas de revistas que estampavam mentiras e ofensas pessoais, como no caso de uma revista semanal que publicou uma imagem de Lula com a marca de um pé em seu traseiro. Não houve, sequer, registro formal junto aos editores. Muitos disseram que a oposição partidária sumira e a mídia tomara seu lugar. Era verdade.

Estamos próximos a um ponto de ruptura institucional que poderá custar caro à democracia.
É possível que ainda haja tempo para reagir, mas talvez seja tarde.
A cobertura das manifestações, impressa, virtual e televisiva da maior parte da imprensa, trabalha unida no objetivo de uma década atrás: a retomada do poder. Está sendo eficiente ao esconder os protestos contra a própria mídia e capitaliza as imagens apoiando as “manifestações pacíficas”, colocando no ar opiniões de analistas alinhados a seus anseios; está obtendo êxito ao jogar a massa contra o Governo Federal mesmo quando as “urgentes necessidades do povo” sejam apenas de âmbito municipal!

O RECADO INVISÍVEL DAS RUAS
O avanço da retomada de poder se dará pela forma inconstitucional até o confronto. A força trabalhadora, os sindicatos, as uniões estudantis, os movimentos camponeses e urbanos em geral, ainda estão fora das ruas. Mas haverão, em certo momento, de se integrar às passeatas. De modo organizado e com claras reivindicações, como sempre foi. E então se dará o enfrentamento: os discursos serão diferentes aos que estamos assistindo e levará a mensagem de que não abrirão mão dos direitos conquistados, muitos deles contrários ao desejo dos reacionários: emprego, distribuição de renda, acesso aos bens de consumo, inclusão social, direito ao voto e à defesa de suas famílias.

Só então, quando toda a sociedade estiver engajada, o processo será concluído. Se de forma legal ou ilegal, só saberemos depois.

Mas que fique clara a lição desde já. Ou reagimos para dizer o que se passa de verdade, ou seremos cúmplices de um golpe anunciado em 2.005.
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A propósito de Jânio Quadros, não houve manifestações populares para seu retorno. Seu Vice, João Goulart, estava em missão oficial na China e voltou às pressas. Assumiu e foi deposto por um golpe militar financiado, hoje se sabe, pelos EUA e pelo poder econômico brasileiro por ser “comunista”.
Jango, como era conhecido, foi assassinado anos mais tarde por ordem direta da cúpula militar que se mantinha no poder pela força.
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Um comentário:

Regina Nóbrega disse...

A mais lúcida análise do momento por que passa o país, que tive a oportunidade de ler nos últimos dias.
Meus cumprimentos.
Política. Crise. Institucional. PT.