21 de jun. de 2013

APELO AO BOM SENSO: PARA ALEX.

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Até os cachorros sabem, e a imagem não me deixa mentir, que o cunho político está infiltrado nas manifestações que vem ocorrendo pelo Brasil.

Alex é um homem de 26 anos com sonhos e ideais nobres. Deve ter puxado ao tio; tem posições políticas claras e luta por elas. Eu o admiro por causa disso. Talvez veja nele um pouco - ou tudo - do que eu era na sua idade.
Cibernético, como toda sua geração, esteve ontem no Campo Grande, em Salvador, para protestar contra aquilo que o ofende em seus direitos. Com o justo dever de dizer o quê o aflige.

Hoje, ele escreveu no Facebook:
"Não joguei pedra em nada. A única pedra que eu joguei foi tentando mirar um policial que tinha acabado de atirar no meu rosto, há uns 2 centímetros do olho. Mas passei o tempo todo tentando me controlar. Não queria virar um animal violento que nem os policiais. Felizmente, me orgulho de ter conseguido. Mas entendo quem não conseguiu. Não tava fácil."

Eu estive assistindo a cobertura feitas pelas TVs e pelo Twitter, em tempo real. Nem me atreví a chegar perto do local do confronto entre a polícia da Bahia e os manifestantes da Bahia. Passei da idade ... talvez, se tivesse 26 estaria lá com eles, como já estive tantas outras vezes em passeatas, greves e manifestações.

Lembro de uma vez, no centro de São Paulo, nas ruas de pedestres, eu acompanhava uma greve de bacários. As lojas fecharam por medo do vandalismo. Pessoas corriam de um lado pro outro e eu, ainda garotão, gritava junto aos grevistas. De repente, sem que ninguém soubesse de onde surgiam, a cavalaria montada, uns 50, 60 policiais vieram nos reprimir. A primeira bordoada me derrubou: não tive nem como ver de qual PM levei a borrachada.

Vi gente pisoteada pelos cavalos, gente que nunca tinha visto antes sendo arrastada pela camisa pelos milicos com os corpos tentando se desviar das patas dos cavalos ... foi um horror! A polícia não deu trégua até que todos nós fugissemos dali, às pressas, cada um por si. A gente sabia que se fossemos pegos, a coisa seria pior. Muitos grevistas foram parar no DOI-CODI, a repressão militar, naquela época, reprimia com balas de verdade e, se você caisse em cana ... já era!

Mais tarde, a "turma" se reunia em algum botequim para contagem dos "sobreviventes". E para cada um relatar como conseguiu fugir, para contar o que viu, para levantarmos juntos o troféu de estarmos vivos!

Porque estou dizendo isso?
Não me lembro - posso estar enganado e sem memória - de algum de nós ter reclamado da ação das polícias militar e do exército. É claro que não gostamos de apanhar, evidente que tínhamos certeza de que a PM e a PE iriam aparecer; se não ficassemos expostos e se não houvesse repressão, nunca seríamos ouvidos!

Tínhamos exata noção do risco ao participar de um movimento com milhares de pessoas, sobretudo numa época em que a democracia não era o forte de nosso país. Para nós, naquela época, polícia era como jagunço. Hoje não é muito diferente, é da esseência do militarismo.

Ontem, além de Salvador, vi manifestações com extrema violência em Brasilia, Campinas e Rio de Janeiro. Com um olho na TV e outro no Twitter, vi e li imagens de ódio na cara de manifestantes. Não vou e nem tenho obrigação de defender nem um lado ou outro, mas as imagens da tentativa de invasão do Itamaraty me marcaram profundamente. Aí o pau comeu ... começou a correria e a polícia atacou impiedosamente meninos e meninas, sem dó, até dispersar.

Na minha época, éramos manobrados por movimentos que tinham siglas. Quase todas as siglas tinham a letra R, de Revolucionário ou P, de Popular. Tinhamos liderança organizada e os objetivos eram bastante claros: estávamos sempre ao lado do trabalhador do campo e da cidade. Sempre!

Mas, e hoje?
Não vejo no rosto das pessoas na rua uma unidade em torno de alguma coisa. Não vejo Sindicatos nem partidos, não há movimentos dos Sem-Teto ou Sem-Terra, Feminista, Negro, nada! Soube que nesta madrugada, na Avenida Paulista, queimavam uma bandeira do Movimento Negro no meio da rua!

O que é isso? Onde vocês querem chegar? Qual o plano, qual o desejo, quais os meios?
Por favor, se me falarem que querem impedir a Copa do Mundo vão estar sendo ingênuos ou mal intencionados! Aqui mesmo, em Salvador, os operários que levantavam a Fonte Nova fizeram greve, cruzaram os braços, e quem de vocês foi lá dar uma força? Quem?

O gigante acordou ... mas acordou há algum tempo atrás, não foi ontem.
Quem o queria dormindo se diz descontente. Até os cachorros sabem que há manobra, basta ler os sites da direita, basta assistir a cobertura nas TV. Ontem, a Globo suspendeu a novela para apresentar o show de democracia do décimo andar de um prédio da Paulista, com microfone sem o logotipo, a repórter dizendo que era um movimento lindo e as imagens mostrando o pau quebrando em Brasilia, Campinas e Salvador!

A "galera" pacífica - que reconheço ser a imensa maioria - está perdida por falta de organização. Os mal intencionados, criminosos, vândalos (ideio esssa palavra!!) estão super bem organizados. Basta ler nos comentários do Facebook de Alex um garoto dizendo assim:

"Soube ainda que tudo começou porque dois rapazes tentaram furar o bloqueio policial" 

à respeito de Salvador. DOIS RAPAZES!

Sim, há descontentes. Muitos deles. Em todos os lugares. Camuflados, com a cara pintada, com cartazes bonitinhos postados nas redes sociais. São minoria, mas estão levando o gigante de volta ao passado. Não tenho dúvidas de que as manobras são muito bem preparadas e, por enquanto, eficientes.

Minha opinião pode ser velha, fora de moda e desconectada. Mas eu insisto que, enquanto os verdadeiros movimentos populares não estiverem nas ruas, os sindicatos, as representações estudantis, os partidos políticos, os representates de bairros, favelas e periferias, o povão, se o interesse majoritário realmente popular não for convocado, quem vai ganhar é quem estiver melhor organizado no "front", como Alex se referiu. 

O front é a guerra.


Alex, te peço apenas bom senso para usar a inteligência e refletir.
Com amor,
seu Tio.

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